Embora nos últimos meses, por força das circunstâncias, o avançar de muitos projetos artísticos tenha estado parado ou suspenso em Portugal, a verdade é que há todo um mundo de candidaturas para vários fins que tem estado a funcionar quase ininterruptamente, mesmo que com algumas limitações.
De facto, apresentar candidaturas é algo natural em muitas áreas de trabalho, em particular na área das artes e da cultura, em que muitas vezes uma candidatura (e o seu resultado) pode ditar a concretização (ou não) de determinado projeto, que de outra maneira é difícil de realizar.
Assim, o tema deste artigo é uma pequena ajuda para todos as pessoas (profissionais ou amadores) das mais diversas áreas culturais que tenham em mãos a tarefa de preparar uma candidatura para um projeto artístico ou cultural.
Neste Artigo…
- Importância das Candidaturas para a Gestão Cultural e para a Gestão de Carreira Artística
- Tipos de Candidatura que Existem para Projetos Artísticos e Culturais
- 5 Dicas de Preparação de Candidaturas para Projetos Artísticos ou Culturais
- Informação Adicional
Importância das Candidaturas para a Gestão Cultural e para a Gestão de Carreira Artística
O sector cultural em Portugal sofre de uma co-dependência (quase crónica) de apoios para a concretização dos mais variados projetos culturais. Embora ultimamente esteja a começar a haver um esforço maior por parte das autoridades competentes em colmatar algumas fragilidades do sector, a verdade é que muitas vezes esse esforço não tem sido suficiente face ao funcionamento prático e real dessa área em Portugal. Por outro lado, falha-se frequentemente em reconhecer a importância estratégica deste sector para a economia nacional, e ignora-se muitas vezes a sua importância social para o país e para a identidade do seu povo.
A pandemia tem exposto, desde 2020, muitas dessas fragilidades, mas as soluções empreendidas até ao momento provavelmente só surtirão efeito no futuro (e não de imediato). Desta forma, é incontornável admitir que a existência de programas e projetos que têm por finalidade apoiar a mais diversas artes é uma ajuda preciosa para a manutenção e desenvolvimento deste sector em Portugal. É, também, uma ferramenta de trabalho que não pode, nem deve, ser descurada seja no âmbito da gestão cultural em geral, seja, mais especificamente, no âmbito da gestão de uma carreira artística, constituindo muitas vezes um dos únicos meios para colocar de pé um projeto artístico e/ou cultural.
Ora, para aceder a esses programas e apoios, que não são ilimitados, frequentemente é necessário apresentar uma candidatura. Se bem que nem todas as candidaturas são adequadas ou úteis para todos os projetos, mesmo assim, é fácil intuir a importância das candidaturas para a gestão cultural e para a gestão de carreira, já que aceder a programas de apoio é,muitas vezes, vital para a concretização e sobrevivência de projetos culturais e/ou artísticos.
Tipos de Candidatura que Existem para Projetos Artísticos e Culturais
Os tipos de candidatura para projetos artísticos e culturais dependem do tipo de programa ou apoio que lhe está subjacente, e diferem consoante a sua finalidade e área de atuação. Assim, as candidaturas podem ser feitas com vista a obter:
- Apoio à internacionalização;
- Apoio à programação;
- Apoio à criação;
- Apoio à circulação;
- Apoio à edição;
- Apoio financeiro;
- Apoio à divulgação;
- Apoio à cooperação e desenvolvimento;
- Acesso para participação em Residências Artísticas;
- Apoio à formação profissional;
- Apoio para a formação de redes e parcerias;
- Acesso a prémios;
- Acesso a concursos;
- Etc.
Por ouro lado, existem candidaturas para várias áreas artísticas e culturais, pelo que os interessados devem sempre manter-se atentos às aberturas dos programas que interessam para a sua área artística. Há programas e candidaturas que são anuais ou plurianuais, mas também há programas cujas candidaturas são recebidas a cada X anos, ou que, por exemplo, são abertos apenas uma vez com um determinado objetivo muito específico.
Já o âmbito das candidaturas, este pode ser local, regional, nacional ou internacional. Podem também ser candidaturas dirigidas a pessoas singulares ou a pessoas coletivas, com ou sem fins lucrativos. Enfim, há uma variedade enorme de possibilidades nesta área, e, consequentemente, também de oportunidades que podem despontar no horizonte a qualquer momento.

5 Dicas de Preparação de Candidaturas para Projetos Artísticos ou Culturais
Então você tem um (ou mais) projeto artistico/cultural em mãos e procura apoios para o mesmo através de programas específicos. Certamente terá que fazer alguma candidatura, que, à primeira vista, lhe pode até parecer complicada…Mas, confie em mim: tendo em conta alguns anos de experiência neste tipo de tarefa/atividade, a maior parte das vezes não difícil (embora às vezes possam existir candidaturas mais simples ou mais complexas, dependendo dos programas), mas simplesmente requer alguma organização e perseverança para seguir o percurso da candidatura desde o início até ao fim.
Nesse sentido, para lhe dar uma pequena ajuda, deixo-lhe de seguida algumas dicas básicas que eu própria sigo sempre. Poderá parecer-lhe muito trabalho, mas posso assegurar-lhe que são pequenas técnicas que lhe poupam muito tempo e esforço no desenho, montagem e submissão de uma candidatura, independentemente do seu grau de complexidade (ou pelo menos é essa a minha experiência pessoal).
Posto isto, cá lhe ficam as dicas:
#1 Mantenha-se atento(a) aos programas de apoio existentes nas áreas do seu interesse
#2 Recolha informação detalhada sobre os programas adequados para o seu caso
#3 Leia bem os regulamentos antes de começar a candidatura
#4 Organize previamente o trabalho necessário para completar a candidatura
#5 Faça rascunhos e revisões do material antes de enviar na sua versão final
#1 Mantenha-se atento(a) aos programas de apoio existentes nas áreas do seu interesse
Faça uma pesquisa inicial que lhe permita perceber que tipos de apoios existem para a sua área artística, juntando tudo o que encontrar numa lista inicial. Se nunca fez essa pesquisa, a primeira vez que a faz deve ser o mais exaustivo(a) possível, pois isso permitir-lhe-á ter uma visão global das possibilidades que existem neste campo, independentemente do projeto que tem em mãos no momento.
Hoje em dia é muito fácil recolher essa informação online (inclusivamente cá no Blog existe o espaço “Oportunidades de Carreira”, que tem por objetivo informar também sobre candidaturas a decorrer), mas poderá também encontrar essa informação consultando revistas/jornais especializadas na sua área ou na área cultural, ou conversando com colegas e conhecidos de profissão. Online, veja os websites oficiais dos programas principais, inscreva-se em Newsletters que sejam úteis, consulte páginas dedicadas nas redes sociais e faça pesquisas por temas.
Uma vez recolhida essa informação, aconselho-o(a) a organizá-la de uma maneira que seja fácil para si consultar essa lista no futuro, sempre que lhe seja necessário. Por exemplo, pode ajudar colocar à frente de cada programa o período (quando) em que as respetivas candidaturas normalmente decorrem, e subdividir a sua lista por grupos temáticos de tipologia de apoio.
Não se esqueça de ir atualizando essa lista regularmente (provavelmente uma vez por ano será suficiente).
#2 Recolha informação detalhada sobre os programas adequados para o seu caso
Tenha em mente o projeto que tem em mãos no momento, e defina que tipo(s) de apoio(s) necessita. Depois, consulte a lista que fez anteriormente (dica #1) e seleccione o(s) programa(s) que lhe parece(m) mais adequado(s).
Uma vez feita essa selecção, pesquise e tome nota sobre o máximo de informação possível sobre esse(s) programa(s) de apoio. Recolha regulamentos, informações sobre procedimentos, informações sobre os documentos e conteúdos necessários para submeter cada candidatura, informações sobre critérios de avaliação, objetivos do programa, destinatários, eventuais limitações e caraterísticas específicas. Poderá também recolher informação (quando possível) sobre júris, edições anteriores e vencedores/seleccionados nessas edições.
Isto permtir-lhe-á ter uma ideia muito clara sobre os tempos, prazos, procedimentos e trabalho subjacente a cada candidatura que eventualmente decida apresentar, bem como fazer uma segunda selecção dos programas e candidaturas que são realmente adequados para o seu projeto e são mais realistas em relação à sua capacidade de trabalho e objetivos.
#3 Leia bem os regulamentos antes de começar a candidatura
Este ponto parece básico, bem o sei, mas você ficaria surpreendido(a) com a quantidade de pessoas que não prestam atenção a este pormenor, na ânsia de se candidatar e/ou dar a conhecer o seu projeto. Pode ser compreensível o facto de se estar entusiasmados com um projeto e com as ideias que lhe são subjacentes, mas a verdade é que as candidaturas são, muitas vezes, um trabalho muito burocrático e pouco artístico, pelo que ignorar este ponto significa correr o risco de não conseguir completar a candidatura em tempo útil, ou pelo menos, não a apresentar com as caraterísticas necessárias para ser tida em conta e para uma boa avaliação da mesma.
Assim, uma leitura atenta dos regulamentos, guias e outros materiais disponibilizados pelos promotores do(s) programa(s) de apoio a que se pretender candidatar é muito importante e recomendada, pois ajuda-o(a) a organizar o seu trabalho em relação à candidatura, descobrir os ângulos em que lhe convém apresentar o seu projeto no âmbito de determinado programa de apoio e saber de antemão prazos, materiais/conteúdos necessários e formas de submissão, entre muitos outros detalhes.
#4 Organize previamente o trabalho necessário para completar a candidatura
Na sequência da dica #3 apresentada acima, aconselha-se sempre fazer um breve esquema prévio (ou utilizar outro sistema que funcione melhor para si) com o levantamento do trabalho e materiais necessários para completar a candidatura. Essa organização convém ser escrita de alguma forma (à mão, no computador, num quadro disponível para a equipa, etc.), pois a escrita permite visualizar imediatamente o ponto de situação da candidatura em cada momento.
Nessa organização pode incluir indicações como, por exemplo, uma lista do material necessário para a candidatura, os tempos máximos para completar cada material, os contactos a estabelecer (pesquisas a realizar ou ideias a aprofundar) para completar cada informação/conteúdo/material, a pessoa responsável por cada parte da candidatura (no caso das equipas, isto é especialmente importante e funciona muito bem), o calendário previsto para o trabalho, e todas as outras informações que considerar pertinentes para o bom desenvolvimento da candidatura, dentro dos prazos estabelecidos.
Lembre-se que uma vez que decidiu empreender uma (ou mais) candidatura(s) a um (ou mais ) programa(s), esse trabalho passa a fazer parte integrante da realização do seu projeto, pelo que não será um tempo de trabalho à parte, mas algo que deverá contribuir para o crescimento, melhoria e desenvolvimento do projeto, independentemente do resultado final da candidatura.
#5 Faça rascunhos e revisões do material antes de enviar na sua versão final
Mais uma vez, este parece um ponto lógico, mas muitas vezes acontece, em especial nas vésperas do prazo limite para entregar uma determinada candidatura, a pressa ser tanta (daí a importância de organizar o trabalho como referido na dica anterior) que muitas pessoas não fazem sequer uma revisão final do material antes de o enviar. O risco dessa acção (que pode até, muitas vezes, ser justificada) é que a candidatura pode ser submetida incompleta, com erros de forma ou erros ortográficos, por exemplo, o que pode inviabilizar a sua submissão e contribuir para o seu insucesso.
A maioria das candidaturas para programas na área cultural envolve pelo menos uma parte escrita. Lembre-se que no momento da leitura desse material, é muito improvável que você possa estar presente para apresentar correções e clarificar ideias, pelo que, o seu esforço deve ir no sentido de produzir e completar o material de candidatura o melhor que lhe for possível antes da submissão do mesmo. É neste âmbito que os rascunhos e revisões se tornam uma técnica/ferramenta de trabalho essencial, pelo que lhe aconselho a deixar sempre um momento para isso, antes de submeter a candidatura.
Isso contribui para que possa encontrar (e corrigir/ajustar) pequenos pormenores como erros ortográficos/gramaticais, partes incompletas ou repetidas, ideias pouco claras, partes a mais ou em falta, etc. Procure manter as coisas simples, diretas, claras, perceptíveis/compreensíveis e fáceis de consultar ao longo de todo o material. Se estiver a trabalhar sozinho(a), uma maneira de fazer esta revisão é pedir a opinião de alguém da sua confiança com vista a melhorar o material.
Uma boa revisão aumenta a sua probabilidade de sucesso da candidatura e é uma forma de validar o seu trabalho/projeto e ter confiança no material que está a apresentar, o qual é também uma parte da imagem profissional que transmite a terceiros (que muitas vezes não o(a) conhecem previamente).
Depois, uma vez que o material esteja completo e revisto, é só apresentar/submeter a candidatura seguindo os procedimentos que já conheceu previamente analisando os regulamentos (dica #2).
Informação Adicional
Para finalizar, salvaguardo que, para o caso de necessitar, existem vários profissionais e empresas que apoiam neste tipo de trabalho (alguns são até especializados em candidaturas só para determinados programas), pelo que, se precisa deste tipo de apoio ou de subcontratar alguém que o ajude em determinadas tarefas relacionadas com a candidatura que estiver a trabalhar, pode sempre fazer uma pesquisa de mercado e ver como funciona esse tipo de serviço.
Se assim o entender, eu própria presto alguns serviços nessa área, nomeadamente produção e/ou revisão de textos para candidaturas, ou outros serviços de consultoria. Poderá consultar alguns desses serviços nos links abaixo ou, se preferir contactar-me diretamente (sem compromisso) por email, para geral@alexandragomes.com, para trocarmos informações a esse respeito.
Serviços de Comunicação Cultural | https://alexandragomes.com/servicos-de-comunicacao-cultural/
Serviços de Consultoria | https://alexandragomes.com/servicos-de-consultoria/